Comunidade do Instituto Cristovão Colombo

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Sunday, January 01, 2006

5th dimension


V. percebeu que anda esquecendo aquele telefone importante de uma pessoa querida? Percebeu que não se lembra mais do nome daquele filme... qual era mesmo? E o nome de um amigo da infância? O número de sua casa lá em Santana? O número da placa do primeiro carro?

Pois é. Tenho vivido situações semelhantes. Esse apagamento está associado com a destruição ou obsolescência de setores de minha memória afetiva. Como assim? Vamos lá, obsolescência: com o surgimento das agendas eletrônicas, "transferi" para os bancos de dados externos esse tipo de informação. As redes neuronais já se estendem para além dos limites físicos do meu cérebro. E a destruição? bem, voltemos ao ICC.

Outro dia estive no Instituto. Entrei por uma de suas portas, entre outras... sei lá, no mundo do ICC há tantas... E dei de caras com O Pátio. Aquele Pátio que todos vocês um dia conheceram. Aquele que, ao centro, disputando eternamente em importância e dignidade, estão Mo Leão e o velho ficus - ambos fincados no centro dos nossos corações.

Mas será mesmo aquele Pátio que os meus olhos agora divisavam?

Duvido!

De alguma forma a arquitetura de uma cidade, com suas praças, árvores, ruas e edifícios, são como células de uma incrível, variada e multiforme base de dados, à qual se liga a nossa memória afetiva. Nossas redes neuronais alcançam a cidade e estabelecem com ela vínculos profundos de reconhecimento e certeza e nela fixam elementos tão próprios e singulares, como é a essência de nossa memória. Destruída, puft!, somem, como que por encanto, as emoções que as paredes e edifícios guardavam.

E aí, então, tornamo-nos fantasmas. E passamos a sonhar...
Sonhei que percorria aqueles corredores do ICC e reencontrava os caminhos da minha infância nas câmaras e vestíbulos que se acham ainda mantidos. Quem são aquelas pessoas com quem me encontro nos sonhos? Estranho... a arquitetura se transformou, mas ainda reconheço cada caminho, cada recanto daquela formidável construção, o grande Instituto Cristóvão Colombo!

As imagens me vêm e me tomam de assalto. O ICC transluz. Suas paredes, o pátio, o ficus secular plantado no centro de nossa alma, em cujas profundas raízes as paquinhas dormiam, tudo isso me vem agora como um mar voluptuoso e irresistível. Ah! tudo está projetado nalguma inaudita dimensão. Uma vida que se mantém intocada com os sentidos próprios, em infinitas combinações. Tenho certeza que está lá, onde algo não está!

Lembro-me que um dia, num domingo ensolarado, deitei-me numa roda infantil instalada defronte ao Pátio. Os olhos postos no teto, pus-me a rodar, rodar e rodopiando, vestiginosamente, num sobrevôo de reconhecimento de uma terra incognita, vi abaixo de mim as coisas inatingíveis: me tornava afinal impossível às coisas impossíveis... E num relâmpago azul e luminoso, vi um velho pensativo, os olhos embaciados postos em mim, o que quer de mim, esse velho?

E logo acordo. Deus meu! O que quer de mim essa criança que não dorme?

A imagem: Next Stop: Immortality: http://www.futurehi.net/docs/RAW_Immortality.html.

2 Comments:

Blogger Izael, said...

Será que dorme em paz (dentro de nós) alguma criança que por lá passou? Será o "pampulino" do Molhão, que constato surpreso que ninguém ainda o tenha citado, não deixou também marcas indeléveis?
A impressão mais forte (de todas as que trago da vida)e que não deixa a criança em mim dormir é certamente a do dia em que atravessei a portaria pelas mãos de uma freira e perdi de vista minha avó.

9:41 PM  
Blogger Izael, said...

D. Ana acordou Rael bem cedo, serviu-lhe um mingau de aveia quente, banhou-o, vestiu-lhe a melhor muda de roupa, pegou uma sacola já pronta e saiu segurando-o pela mão sem lhe dizer nada.
Chegaram ao destino ainda cedo da manhã. Rael estava preocupado. D. Ana estivera estranha o tempo todo e não respondera a nenhuma das suas perguntas. Rolava um clima sinistro, um cheiro de perigo no ar. Ao entrarem, a suntuosidade do prédio e o ar solene em seu interior assustou Rael, que não demorou a descobrir qual era o perigo: Era um orfanato e ele estava sendo internado.
No instante em que percebeu que ficaria preso ali, abandonado, sentiu um rasgo abrir-lhe o peito por dentro espalhando um ardor agudo e um estrondo surdo e seco ecoou em sua cabeça estonteando-o, seguidos de angustia e dor. Segurado pelos braços, aos prantos ele gritava: “Não vózinha, num mi deixa aqui! Eu não quero ficá... Mi solta, eu quero ir.... Po favô vózinha, num mi deixa, num mi deixa!... Eu vou me comportá vózinha, eu prometo... mi discupe o que fiz, eu num faço mais vózinha, eu prometo, eu num faço mais... Po favô...” Calou-se, ao ver fechar entre ele e a avó uma porta imensa de madeira, rompendo o fio de esperança que o ligava a ela.

9:48 PM  

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